Recentemente assisti um filme da Netflix, que me fez pensar e muito sobre os limites entre dedicação e esgotamento e entre paixão e sofrimento em ambientes de trabalho.
Falando sobre o mundo da dança clássica, o filme “As garotas de Cristal”, mostra os bastidores da preparação que jovens bailarinos enfrentam ao ensaiarem para um espetáculo: treinos intensos, cuidados com o peso e um alto nível de exigência e competitividade que ocorre entre o grupo.
Quando assistimos um espetáculo de arte, resultado de toda essa preparação, pouco imaginamos o custo dessa entrega.
O que observamos é a suavidade e a precisão e dos movimentos que nos encantam e nos convidam a embarcar naquela história contada através de muita precisão e suaves movimentos. Acompanhamos todo o entusiasmo do artista que muitas vezes é capaz inclusive de experimentar um estado de flow, ao desempenharem sua atividade com tanta maestria e paixão.
Algo parecido acontece no universo corporativo: metas, dedicação, horas de trabalho, pressão por resultados, conflitos construtivos e outros nem tanto, tudo isso compõe o mosaico do nosso dia a dia laboral.
Mas como compreender o que define claramente os limites pessoais de cada um? Como compreender por exemplo quando nosso trabalho é motivador o suficiente para nos desafiar e nos propor crescimento e quando nossa relação com ele se torna tóxica a ponto de extrapolar o bem-estar e comprometer a saúde mental?
Trabalho é trabalho, do contrário, seria lazer

Tinha uma amiga de infância que sempre me dizia isso. Quando começamos nossa jornada de atuação profissional após a formação, ela sempre dizia que o trabalho jamais poderia ser confundido com lazer.
Entretanto, o trabalho é também pode ser sim uma fonte de satisfação, não somente de subsistência, especialmente se observamos nele uma real contribuição social naquilo que fazemos. O propósito, é entendido como a utilização de nossos talentos a serviço dos outros.
Imagem: Acervo Pessoal Letícia Rodrigues
É através do trabalho que temos a possibilidade de construir um legado, de desenvolver habilidades e construir relacionamentos que nos agregam e contribuem para nossos desenvolvimento pessoal e crescimento profissional.
É sabido, porém que trabalhar dá trabalho. Mesmo quando amamos aquilo que fazemos certamente não estamos em uma situação de lazer. As obrigações, prazos e a responsabilidade pelo produto e serviço prestado, deixa claro que nossas possibilidades de atuação são de certa maneira limitadas pela relação comercial estabelecida. Além disso, não fazemos somente o que gostamos.
Eu por exemplo, considero que faço algo pelo qual sou realmente muito apaixonada. Entretanto, no meu dia a dia como psicóloga coordenando processos de coaching diversos, preciso fazer relatórios após cada sessão.
Não é a parte que mais amo fazer. Entretanto é algo crucial para o correto planejamento de minhas sessões e acompanhamento da evolução dos clientes. Muitas vezes, meus insights são obtidos por ali quando escrevo e releio as sessões.
E é o equilíbrio entre nossos desafios e habilidades que impacta diretamente na nossa motivação e em nosso senso de identificação com o trabalho.
Ao pensar no seu trabalho, que sentimentos lhe vêm a cabeça?
A musiquinha do programa Fantástico pode soar como um alarme para você sinalizando que o final de semana acabou. De que forma você reage?
Feliz e ansioso com mais uma semana de trabalho que começa ou desesperado ou desmotivado com a semana que acabou de começar?

Imagem: Meus Miolos
A imagem acima, é baseada no estudo de Tony Schwartz e colaboradores (2010), e sugerem de forma didática como estão os níveis de geração de energia em relação ao ambiente de trabalho.
Aqui compreendemos quais sentimentos experimentamos com maior frequência e como avaliar a nossa disposição para execução das atividades propostas em relação aos desafios apresentados pelo meio.
Nos quadrantes da esquerda, temos a chamada zona de sobrevivência e de burnout, modos disfuncionais de gerar energia ou gerando energia negativa.
Zona de sobrevivência: Aqui, a percepção do indivíduo é que seus desafios encontram-se além de suas habilidades, sejam elas técnicas e ou comportamentais. Sentimentos de frustração, impaciência, inveja são observados.
Nesse ponto, somos convidados a rever nossos comportamentos para atender as necessidades que aparecem. Em um primeiro momento, isso parece desafiador, entretanto, caso topamos o desafio e desenvolvemos novas habilidades, passamos para a área de Performance. Do contraio, caso os desafios não sejam superados ou aumentem além das capacidades de resolução, podemos cair em uma zona de burnout.
Na zona de performance e na zona de relaxamento, conseguimos gerar uma energia positiva. Na primeira, experimentamos o sabor de colocar nossas capacidades e talentos a todo vapor e percebemos os desafios como algo que nos eleva e encoraja ainda mais a seguir aprendendo e nos desenvolvendo.
Entretanto, mesmo em uma zona de desempenho alto como a zona de performance, é necessário equilibrar as energias através de atividades que nos tragam uma sensação de acolhimento, relaxamento e pertencimento, na chamada zona de recuperação.
Importante destacar que é impossível permanecer o tempo todo de modo estático em uma única zona. Até porque nosso nível d e desafios e adaptações muda o tempo todo, pedindo que os ajustes sejam feitos full time. O ideal, entretanto, é alternar momentos de performance e recuperação.
Pode funcionar para que você avalie quais sentimentos tem experienciado na maior parte de seus dias. É claro que variações sutis são comuns, porém caso você se encontre predominantemente em áreas mais à esquerda do gráfico, pode ser interessante conversar com um profissional psicólogo sobre sua gestão emocional no trabalho,
Um pouco mais sobre o burnout
Em janeiro de 2022 a OMS decretou a Síndrome de burnout como uma doença de trabalho. Trata-se de um problema que atinge profissionais em serviço, cuja causa se torna multidimensional.
São encontradas na síndrome, sintomas físicos, psíquicos e comportamentais, trazendo uma serie de sintomas que englobam três características principais: despersonalização, exaustão emocional e redução do sentimento de realização profissional.
São diversos fatores que podem contribuir para esse quadro, entretanto é importante diferenciar que a motivação principal para o surgimento da síndrome se estabeleceu a partir de um contexto profissional.
Por exemplo, um estudo publicado pela Revista Brasileira de Medicina do trabalho, pesquisou que em certas profissões, o índice de burnot chega a 70% em um grupo de 119 participantes. É o caso por exemplo de professores da rede pública, que sentiam-se ameaçados em sala de aula, exaustos pela precariedade das ferramentas de trabalho, à jornada de trabalho excessiva e aos baixos salários.
Dentro desse contexto, fica claro compreender que o nível de exigência para esses profissionais extrapola os exigidos pela sua formação.
Aqui, eu separei alguma s perguntas que podem lhe auxiliar a identificar se você se encontra em risco para desenvolver a síndrome.
1. Você se sente desmotivado em relação ao trabalho?
2. Acredita que não há desafio nas atividades que executa?
3. Frequentemente não sente vontade de conversar ou atender clientes e colegas?
4. Considera seu ambiente profissional muito desafiador?
5. Não se sente realizado naquilo que faz?
6. Considera as pessoas do ambiente de trabalho pouco estimulantes?
7. Trata as pessoas de modo indiferente?
8. Frequentemente sente-se culpado pelas atitudes que tem no trabalho?
9. Sente-se fisicamente cansado?
10. A exaustão mental é algo frequente?
Caso você tenha respondido sim para a maioria das perguntas, talvez seja necessário buscar uma ajuda especializada de uma profissional médico e psicólogo para avaliação.
Assim, voltando ao início, como saber exaltem-te se nossa relação com o trabalho tem se tornado essencialmente prejudicial?
Passe a se auto-observar:
Observe sua disposição para as atividades e veja quais sentimentos estão presentes quando você pensa em seu dia a dia no trabalho?
- Quais são seus planos para os próximos anos?
- Você se imagina atuando no que faz hoje por mais tempo?
- O que mais lhe motiva no trabalho?
- Quais são seus principais desafios? Há como contorna-los?
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O autoconhecimento é um grande parceiro para lhe ajudar a resolver essas perguntas.
Importante destacar ainda que não existe trabalho perfeito, porque o trabalho é sempre feito de pessoas, entretanto é importante deixar claro que nosso equilíbrio emocional e saúde mental devem ser prioridades especialmente se esses limites costumam ser ultrapassados.
Caso você queira saber ais sobre esse tema, pode me chara nesse perfil. Aproveite para me contar ainda que estratégias você já utiliza para driblar os desafios profissionais tão comuns ao nosso sagrado trabalho do dia dia.
Leticia
Um beijo
Letícia Rodrigues

Psicóloga graduada pela PUC/SP e Pós-graduada em Gestão de Marketing pela FAAP;
• Trainer de Colaboradores Corporativos em empresas como Kumon, Hospital Leonor Mendes Barros, SBT, Nike e Metlife;
• Professora de Inteligência Emocional da Escola Conquer, com melhor avaliação do Brasil em agosto de 2019;
• Coach de Carreira na FAAP.