A frase acima foi inspirada no questionamento de Freud sobre o desejo feminino.

Não há um única interpretação sobre o que o Pai da Psicanálise quis dizer com isso. Mas há uma série de teorias que vão desde a observação de que o desejo feminino era muito mais complexo para caber nas suposições freudianas ou, que as mulheres merecessem atenção aos seus desejos inclusive na época de Freud, onde seus papéis eram exclusivamente os de mãe e de esposa. Freud admitia a legitimidade do desejo feminino.

Mulheres, Cotidiano UFSCAR

O Contexto importa

De lá para cá, nós mulheres continuamos desejando muito, mas recebendo pouco.

Importante compreender um pouco do cenário mundial sobre ser mulher em 2023. Vamos falar sobre fatores como equidade de gênero, saúde mental, violência e por fim, objetivos.

As mulheres vem ganhando seus espaços. Mas ainda assim, o caminho é árduo e longo. Consegue imaginar o porquê?

As mulheres vivem uma situação de vulnerabilidade constante agravada por diversos fatores que misturam causas e consequências. Nesse looping infinito, ambas se confundem, tornando o cenário bastante desolador como vamos observando a seguir.

Desigualdade de Gênero

Os desafios são muitos, mas um deles muito relevante: a diferença salarial ou a tão sonhada equidade de gênero ainda é distante.

Dados do IBGE em pesquisa de 2019, mostra que salários das mulheres é 77% do salário dos homens. Os cargos de liderança em sua maioria são ocupados por homens.

No entanto, as mulheres se qualificam mais: entre 25 e 35 anos, 25,1% das mulheres possuem nível superior. Na mesma faixa etária, os homens são 18,3%.

Somente 54% de mulheres com crianças de até três anos de idade, na faixa entre 23-49 anos, estão empregadas, contra 89% dos homens na mesma condição.

Naomi Wolf, autora de um importante livro chamado O Mito da Beleza, traz um dado ainda mais estarrecedor: apenas 5% das propriedades privadas no mundo, pertencem as mulheres.

Saúde Mental

As mulheres são mais acometidas por transtornos mentais como ansiedade e depressão. Também apresentam um número maior de casos de burnout ou síndrome do esgotamento profissional.

Precisamos pontuar algo importante sobre esses aspectos:

  • A vulnerabilidade biológica das mulheres devida às suas variações hormonais.
  • O fato das mulheres buscarem mais ajuda e portanto, terem seus sofrimentos notificados.
  • O burnout ou Síndrome do esgotamento profisisonal é fortemente impactado por fatores como sobrecarga de tarefas e falta de reconhecimento. Abaixo vamos falar sobre o quanto mulheres possuem mais tarefas .
  • Mulheres são maiores vítimas de violência de gênero. Só em 2022, os índices revelam que 4 mulheres são mortas por dia em casos de feminicídio.

Estamos exaustas

Na pandemia de Covid, os números também foram mais desfavoráveis às mulheres.

Foram delas os índices mais altos de desemprego, já que a grande parte dos trabalhos em área onde predominam as mulheres, como a prestação de serviços e educação, foram fortemente impactadas pela necessidade de isolamento social.

As que trabalharam na linha de frente, na área da saúde , foram em sua maioria mulheres no papel de cuidadoras, relataram um aumento considerável na ansiedade e depressão, agravadas pelo risco de contrair Covid.

Durante a pandemia, a responsabilidade do gerenciamento da vida escolar das crianças recaiu também sobre as mulheres. O relatório latino americano sobre Saúde e Gênero 2022, aponta que grande parte delas são responsáveis por cerca de 80% das tarefas domésticas.

Esse relatório sobre Análise de Saúde por Gênero de 2022, revela que as desigualdades afetam as mulheres não somente em seus salários, mais impactam diretamente seu bem estar e sua saúde física e emocional. Nas palavras de Carissa F. Etienne, diretora da OPAS :

“O relatório de 2022, ressalta que a desigualdade de gênero é uma crise social, econômica, política e de saúde em curso, que foi exacerbada pela pandemia”,

Mulheres também fazem mais as chamadas tarefas não promocionais ou TNP, que são aquelas que executamos além do nosso escopo profissional e que não são remuneradas ou contabilizadas. Nesse caso, são as mulheres responsáveis por fazer mais de 200 mil horas extras/ano desse tipo de tarefa.

Ainda assim, mulheres lidam com uma jornada que conta com três aspectos importantes: carreira, cuidado com os filhos e vida pessoal. Na vida pessoal, enfrentamos um dilema que precisamos discutir:

O mito da beleza

Mulheres não podem envelhecer. O processo que é natural é visto de formas diferentes para homens e mulheres.

O fenômeno do etarismo, que a discriminação baseada na idade, é mais cruel com as mulheres .O mesmo ocorre com a necessidade de estar sempre bela, a partir de um referencial ditado por uma indústria de beleza que coloca padrões absolutamente irreais sob corpos reais.

Novamente aqui, cito a Naomi Wolfi. Para a autora, esse novo ideal de beleza e juventude é a maneira que o capitalismo tem de subjugar as mulheres para que as mesmas sintam-se impelidas a perseguir esse “mito”.

As indústrias de cosmético e de cirurgia plástica faturam trilhões de dólares anualmente e vendem através das imagens de beleza a forma como devemos ser, como devemos usar nossos cabelos e qual o formato adequado do nosso corpo.

Combater as rugas, parecer mais jovem, esconder todo o sinal da passagem do tempo, parece ser a prerrogativa em voga.

É fácil se manter fora desse movimento?

Nem um pouco. Eu mesma, me sinto bem quando faço as unhas e cuido dos cabelos.Mas me lembro com muita nituidez de quanto estava as vésperas de completar 30 anos:

Balzaquiana, solteira e com os óvulos indo para as “cucuias” a cada período menstrual.

Fiquei aterrorzada. Me sentia sem rumo, em um trabalho que não fazia sentido, sem filhos à vista e sem nenhuma possibilidade de mudança.

Esse imaginário é algo que precisamos discutir. Como uma mulher jovem com 30 anos, idade essa é que considerada o ápice para homens , pode se sentir tão desajustada ?

No meu caso, eu busquei ajuda psicológica e fortaleci meu autoconhecimento, ferramentas cruciais que me ajudaram a compreender mais sobre meus desejos e objetivos.

Imagem Leticia, arquivo pessoal

Hoje, mais de dez anos após o fato, ainda sinto o peso em dizer que tenho 42 anos. Porém isso me “pega” de uma forma totalmente diferente, graças às minhas escolhas e meu posicionamento pessoal e profissional.

Mas a situação se agrava quando o envelhecer é reforçado pelo fechamento de algumas portas profissionais, como no caso do etarismo.

Ou quando meninas de 20 anos, acham que precisam de Botox ” preventivo” ou de um aumento de lábios para serem mais belas.

Existe uma diferença crucial entre ter autoestima e cuidar-se , e ter comportamentos obsessivos em relação ao próprio corpo, que podem levar a transtornos emocionais importantes.

Mas, o que podemos fazer?

A gente pode em primeiro lugar reconhecer esses fatos. Reconhecer por exemplo que mulheres precisam de salários dignos e compatíveis com seus cargos.

A discussão sobre o tema deve fazer parte das ações estratégicas e de planejamento das corporações:

  1. Recrutamento direcionado: contratar mulheres para cargos de liderança, ter vagas afirmativas para mulheres negras e para mulheres acima dos 50 anos.

2. Criação de um ambiente psicologicamente seguro: Prepara as lideranças para terem uma visão mais empática e humanizadas para as questões de vulnerabilidade emocional.

3. Padronização de salários por cargo , independentemente do gênero.

A responsabilidade é de todos

Precisamos conscientizar a sociedade como um todo sobre a sobrecarga de tarefas que é reforçada culturalmente pele sociedade e falar da importância da divisão justa de trabalho.

Conscientizar e discutir sobre os padrões irreais propagadas pela mídia que servem ao interesse de uma indústria milionária.

Acolher meninas e meninos em suas ideias sobre o que é ser mulher e o que é ser homem no mundo de hoje.

No fundo, o que nós mulheres queremos é tudo o ue todo ser humano quer: a liberdade de ser quem somos, de estarmos no mundo com dignidade, sendo possvel exercermos principalente escolhas que condizam com nossos desejos, amar e sermos amadas, sem medo.

Afinal , já dizia Freud e dessa vez com razão que o Amor e o Trabalho são os pilares da humanidade.

Quer levar essa discussão para sua equipe ou conversar mais sobre isso? Conte comigo por aqui.

Um abraço

Leticia Rodrigues

Quem sou eu?

Sou Leticia Rodrigues psicóloga e atuo com desenvolvimento pessoal e profissional. Minha base é fortalecer o autoconhecimento e levar você a aprender sobre seu funcionamento a atingir seus objetivos. Também facilito treinamentos para empresas como SBT, KUMON e Nike sobre temas como Inteligência Emocional, Motivação, Comunicação Assertiva e Saúde Mental Corporativa.